No espelho, pintados sobre ele,
estão a dama chinesa
a mesa e a pilha de livros.
Longilínea, sob a leve túnica,
alça com branca mão o pincel.
O resto da imagem é quase apenas
espelho.
No canto, há uma pedra
rocha, ou outra coisa do mundo
natural.
Dessas coisas mutantes da
natureza
que não sabemos bem nomear.
A chinesa, em pé, se impõe sobre
o fundo
do vidro. Fundo como água, lago,
céu.
Um acaso encontrar tal imagem
naquela tarde em que
tudo era tão igual.
Ela frente aos livros
(a serem lidos? tatuados?)
Ela, então, plena e mínima
no espaço do vidro, chamou-me
como
em um canto.
Hoje a dama, a escritora,
a leitora em leito especular
mira o vazio partida em dois
como sem olhos.
Restaurada, mas em dois.
A marca que corta o vidro desenha
um V
(a comovente fragilidade dos
vidros ).
A dama, o vidro quebrado
a casual imposição do corte
parecem modificar
uma escritura possível.
A escritura real, o recorte no vidro,
nos mira qual ferida aberta.
Superlativo do efêmero.
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